quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ambientes sonoros interativos

O meu texto publicado na ABCiber desse ano:

Soundscape + Softspace - a questão sonora em Primal Source, de Usman Haque.

Próxima semana, estarei novamente no Rio - agora com tempo pra turismo!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Notas sobre o som de Robert Bresson

Tradução do texto de 1975 do diretor de Pickpocket

Visão e audição


Para saber qual é o negócio do som (ou da imagem).
- O que é para o olho não deve ser duplicado com o que é para o ouvido.
- Se o olho está totalmente conquistado, não dê nada ou quase nada ao ouvido (e vice-versa, se o ouvido está inteiramente conquistado, não dê nada ao olho). Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, inteiramente olho e inteiramente ouvido.
- Quando um som pode substituir uma imagem, corte a imagem ou a neutralilze. O ouvido vai mais em direção ao interior, o olho, em direção ao exterior.
- Um som nunca deve vir em ajuda à imagem, nem uma imagem, em ajuda a um som.
- Se o som é complemento obrigatório de uma imagem, dê preponderância ao som ou à imagem. Se iguais, eles prejudicam ou matam um ao outro, como se diz sobre as cores.
- Imagem e som não deveriam nem devem apoiar um ao outro, mas devem trabalhar em turnos em uma espécie de revezamento.
- O olho solicitado solitariamente faz o ouvido impaciente, o ouvido solicitado solitariamente faz o ouvido impaciente. Use essas impaciências. Poder do cinematógrafo que apela aos sentidos em modos governáveis. Contra a tática da velocidade, do ruído, aplique a tática da lentidão, do silêncio.


original aqui!

Inception e o som

"Inception" Sound for Film Profile from Michael Coleman on Vimeo.

Breve texto sobre som e imaginação na radionovela e radiodocumentário

No audiovisual, a associação entre imagem e som facilita a decodificação da mensagem, podendo ser explorada de forma criativa. Enquanto isso o som 'atiça' a imaginação, não dá a informação completa e faz como a literatura: o ouvinte ou leitor imaginam o próprio mundo que o meio está tratando, criando de acordo com o estímulo.


Essa frase do Arhneim já está colocada em outro post:

“A obra radiofônica, apesar de seu caráter abstrato e oculto, é capaz de criar um mundo próprio com o material sensível de que dispõe, atuando de maneira que não se necessite nenhum tipo de complemento visual”

A peça radiofônica tinha uma única chance de apresentação ao ouvinte. Hoje, a peça radiofônica dissemina-se pelos arquivos digitais e os downloads, podendo ser ouvidas a qualquer hora. Mas o ato de "voltar" o áudio compromete a fruição. Portanto, o caráter de "única chance" deve ser considerado. Além do mais, por nós ocidentais sermos estimulados principalmente pelo meio visual, encontramos várias distrações quando escutamos algo no rádio - faxina, conversa diária, leitura,  tendo na peça radiofônica uma trilha sonora de fundo. A narrativa radiofônica, ficcional ou documental, exige devida atenção do ouvinte para imersão, diferentemente dos programas musicais.

Os elementos para a criação do mundo próprio são vários: falas, músicas, 'silêncio', efeitos e 'ruídos'.
A linguagem radiofônica é o que o conjunto de elementos sonoros que se relacionam, produzindo estímulos sensoriais estéticos ou intelectuais, ou para criar imagens.

Não é imposto criar uma peça radiofônica somente pela fala e música, como em Repórter Esso. Hoje, todos os elementos sonoros devem ser trabalhados em conjunto dando um resultado diferenciado e mais detalhado do que os clássicos e clichês da década de 60. Na radionovela o som pode ser tratado de maneira mais apurada, não requerendo que os personagens falem tudo que fazem ou vão fazer. A linguagem pode ser desenvolvida através de outros elementos sonoros. No radiodocumentário, que se difere do radiojornalismo pelo aprofundamento e a diversificação de pontos de vista (documentações podem ser variadas, diversificadas e múltiplas, podendo incluir e desenvolver os dados que ficam fora da notícia), pode utilizar variados materiais: entrevistas, materiais de arquivo, narrações, músicas...

O humano tem tendência em atribuir mais importância à voz - o vococentrismo (Michel Chion) - porém todos os elementos sonoros interagindo traz uma maior imersão e detalhismo do espaço acústico da peça radiofônica, isso é possível de certificar pelos próprios clichês e estereótipos de radionovelas.


Outro aspecto importante a ser notado é a interação com o ouvinte, antes por telefone e cartas e hoje através de sites, twitter, facebook e outras redes sociais, além do clássico telefone. O rádio sempre pediu essa interatividade.

domingo, 24 de outubro de 2010

Vídeos sobre sound design (ou desenho de som)



Grande Walter Murch.

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Ben Burtt e Wall-E:
youtube 01

youtube 02

(incorporações desativadas)


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Ben Burtt e Guerra nas estrelas

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Making off básico, com "he is the best" essas coisas...

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Introdução bem básica com David Sonnenschein, na verdade é propaganda do livro dele. A Biblioteca Comunitária da UFSCar tem esse livro.

Advento do som no cinema

"O Cantor de Jazz", filme de 1927 estrelando Al Jolson, foi um choque. A imagem aprende a falar. Ou melhor: a cantar sincronizadamente, ainda que "má le má".
Inúmeras eram as tentativas de se ter uma imagem falante. O cinema silencioso procurou, além das já conhecidas orquestras e pianistas (com ou sem partituras específicas), narradores para comentar a imagem e dubladores atrás das telas para copiar a fala dos atores projetados.
O som de "O Cantor de Jazz" é em vitaphone, um método de sincronização mecânico, onde o som gravado em disco reproduzia de acordo com a imagem. Não era um simples gramofone tocando, pois a película perde frames e o gramofone não tem como acompanhar essa perda. Ainda com o método de sincronização, era impossível obter um sincronismo perfeito.
"O Cantor de Jazz" de Alan Crossland, não foi o primeiro. Antes teve "Don Juan", que parece não ter feito tanto sucesso. Pelo menos não tanto "O Cantor de Jazz". O filme tem como estrela Al Jolson, famoso e cativante cantor da época, o que deve ter alavancado o filme para o sucesso, além de sua linguagem híbrida entre o sonoro e o silencioso: no filme persistem as cartelas, a atuação e as expressões típicas do cinema silencioso. Um grande auge do filme é quando Jolson faz uma grande brincadeira de muito significado: depois de cantar uma música lenta e romântica, diz que o espectador "não ouviu nada ainda", e canta e dança "Toot, Toot, Tootsie" com uma performance memorável. A gravação tem grande qualidade pra época, onde um microfone deveria captar tudo sem edição.



O vitaphone, por ser mecânico e em disco, tinha problemas de chiado e de sincronismo ainda. Porém a disputa por público e busca por sucesso econômico dos Estúdios tiveram grande importância na procura de novas tecnologias para o cinema sonoro, como o Movietone da 20th. Century de 1931, onde o som era óptico.


Claro que muitas dificuldades apareceram nessa época. A diversificação de tecnologias atrapalhava a formação do corpo técnico de som, que só pelo som/áudio ser um aspecto novo já acarretava em poucas pessoas com formação ou conhecimento técnico. Além disso, o tamanho e o peso do equipamento dificultava as gravações, junto com o ruído dos estúdios - acostumados em gravar vários filmes ao mesmo tempo. O arredor influencia e toma conta da filmagem através do som. Há também uma transformação da linguagem sonora, que vai se apurando. Além da própria atuação dos atores de cinema silencioso teria que ser diferente para não haver tanta dramaticidade e redundância; a edição de som torna-se possível apenas anos depois; o problema das salas de exibição compatíveis... Os dois vídeos abaixo, do filme Cantando na Chuva, exemplificam esses problemas:

Filmando o "Duelling Cavalier"
Exibição do "Duelling Cavalier"
(a incorporação desses vídeos está desativada.)

Star Tracks

Dedico para o pessoal que se encantou com esse curta no sábado.

domingo, 10 de outubro de 2010

Som-metralhadora

Spatial sound.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Análise Técnica de som para vídeo/cinema



Som direto e todas as funções do som para cinema, como já discorrido brevemente aqui, é puro controle. Precisa-se controlar a paisagem sonora incontrolável! Todos os sons dos arredores, que não pertencem à diegese ou simplesmente atrapalham precisam ser amenizados para a melhor fruição do filme pelo espectador. Mesmo que a proposta da realização não peça tal fruição, o som tem que parecer inteligível e o mais limpo possível no set de filmagem para depois 'sujá-lo' - tendo mais controle sobre a linguagem.

A análise técnica é a definição dos equipamentos sonoros e acessórios que serão usados em cada sequência ou locação.

E para que a análise técnica?
A análise técnica, por ser um planejamento e um momento de reflexão do que precisa ser feito, ajuda o planejamento e a estratégia de som direto, e expõe as dificuldades. Além disso, a necessária organização dos custos pelo produtor também entra na utilidade.

É, ou deveria ser, consentimento geral de que muitas vezes um trabalho que duraria cinco minutos no set de filmagem poderia durar uns cinco dias para a equipe de pós-produção de som - isso se não requerer um custo a mais de dublagem. Por exemplo um caminhão passando, carros de som na redondeza, apresentação da aeronáutica, um carro cênico ligado (quando poderia estar desligado), ou mesmo problemas de dicção. Lembrando sempre que a pós-produção custa mais do que o que rola no set de filmagem - a hora de estúdio é cara e dependendo da situação necessita-se de muitas horas para um bom resultado. 

A estratégia mais difícil para muitos pode ser um equipamento que condiz com o orçamento. Nesse caso a equipe de som direto deve expor as dificuldades que esse equipamento reduzido trará - por exemplo trabalhar só com microfone shotgun.

Além de tudo, também é útil saber das condições adversas que a equipe enfrentará. Gravará o crocodilo lutando com o caçador? Vai se movimentar muito? É documentário? Se sim, quais os locais de gravação? São entrevistas marcadas ou será um esquema de selecionar pessoas para entrevista-surpresa? Esse lugar chove, úmido, ou venta? Como é a locação? Como você vai se localizar no set, durante a filmagem?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Textura do som

Acabo de voltar da UFSCar, da apresentação do projeto Aquarpa. Não sou muito para falar do projeto, mas resumidamente (de forma bem bruta) são instrumentos construídos, que exploram texturas e sonoridades variadas, junto a uma projeção feita ao vivo.
É interessante como as pessoas divergem quanto à sensações passadas por esse tipo de 'linguagem', música-vídeo. Aquela velha problemática de descrever o som como sóbrio ou alegre é elevada à décima potência. Saindo do evento algumas pessoas disseram que sentiram medo do instrumento inicial, outra se sentiu incomodada, enquanto que interpretei mais como um convite, um som que podia ser o que eu quisesse.

Viagens à parte, lembrei-me de umas frases do Harry Partch, compositor que já abordei no programa Ruído Clássico da Rádio UFSCar:

“O mundo que eu tenho feito por esses anos tem muito em paralelo nas atitudes e ações do homem primitivo. Ele encontrava a mágica sonora nos materiais comuns a sua volta. E ele prosseguiu fazendo o veículo, o instrumento, o mais belo que podia. Por fim, ele envolveu a magia do som e a beleza nas palavras e experiências do cotidiano, nos rituais e no drama, para dar um maior significado em sua vida. Esta é minha trilogia: magia do som, beleza visual, e o ritual-experiência.”

“Música na verdade é uma colagem de sons. A técnica de montagem de cortes rápidos em filmes é traduzida em termos musicais. As súbitas mudanças representam símbolos da natureza do filme, utilizadas para um fim dramático: árvores mortas, troncos, areia caindo, vento assoprando, gaivotas cantando, cobras se cortorcendo, o movimento do campo.”

É interessante como esses momentos citados por Partch podem ser muito sonoros. A sensação sonora proporcionada pela sugestão, vinda da palavra, do som de galhos de árvore ao vento.

domingo, 26 de setembro de 2010

Stockhausen

Esse vídeo está aqui pra eu não esquecer de ver. Afinal, se eu colocar nos favoritos aqui eu nunca vou ver...

Sound sculptures

Zimoun : Sound Sculptures & Installations | Compilation Video V1.9 from ZIMOUN VIDEO ARCHIVE on Vimeo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Contato, imediato!

O Festival Contato (também tem outro link aqui) está na sua 4a. edição, trazendo programações culturais beeeem legais, para todas idades, espíritos e interesses. O Festival é em São Carlos e acontecerá do dia 07 de outubro até dia 12 de outubro.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O que você escutou hoje?

Mais difícil é pensar "Como soou o que você escutou hoje?"

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Música e Mídia - Complementar

Aqui estão uns vídeos complementares que servem de exemplo e complemento para a a apresentação do 6o. Música e Mídia, referente ao trabalho "Pare, olhe e escute - a transformação da paisagem sonora urbana e sua relação com as mídias sonoras portáteis"

Tentei comentar sobre a transformação da paisagem sonora urbana no século XX, traçando um paralelo das teorias de som em cinema (como temos Chion, Lastra, Rick Altman, Walter Murch, e muitos outros teóricos e realizadores) e a individualização e desterritorialização da escuta.


Aqui, em Poderoso Chefão, o conflito do personagem de Al Pacino é demonstrado através de um som não realista de um trem.




Psicose, com a trilha de Bernard Herrmann que tomou as ruas com toques de celular. Também é exemplo, de como trilhas cinematográficas fazem parte do nosso dia-a-dia e imaginário, o filme Tubarão. Lembrou da música?



Imagine isso sem som. Ou com outros efeitos sonoros.



Transformação de uma imagem através de uma música. Cortes de cenas.





Versões bem humoradas de Jacques Tati da cidade, seu movimento e seus ruídos.



É aquela qualidade sonora de youtube, mas serve para que veio. Recomendo os filmes!

Espero que vocês tenham gostado.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Modos de se usar o som

Eis o Heart Chamber Orchestra, segundo lugar do FILE 2010  de sonoridade eletrônica.



Heart Chamber Orchestra from pure on Vimeo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Peça Radiofônica





Comecei a me interessar por rádio só no ano passado. Acho que não comecei antes principalmente por falta de incentivo e por falta de procurar coisas sobre o assunto. Acho ótimo ter conhecido um pouco mais esse universo, que abre tantas discussões e ideias.

Separei umas frases batutas sobre o assunto, que são pequenas mas dizem muito.

Brecht: "É preciso transformar o rádio, convertê-lo de aparelho de distribuição em aparelho de comunicação. O rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação imaginável na vida pública, um fantástico sistema de canalização. Isto é, seria se não somente fosse capaz de emitir, como também de receber; portanto, se conseguisse não apenas se fazer escutar pelo ouvinte, mas também pôr-se em comunicação com ele. A radiodifusão deveria, consequentemente, afastar-se dos que a abastecem e constituir os ouvintes como abastecedores." (isso era na primeira metade do século XX! Tem um texto legal dele sobre o assunto aqui)

Arnheim: “A obra radiofônica, apesar de seu caráter abstrato e oculto, é capaz de criar um mundo próprio com o material sensível de que dispõe, atuando de maneira que não se necessite nenhum tipo de complemento visual”

Klaus Schöning: “A peça radiofônica pode ser muitas coisas. No conceito da peça radiofônica cabem muitos aspectos. A peça radiofônica funde os gêneros tradicionais. Nela se fundem: a literatura, a música, a arte dramática. A peça radiofônica pode ser: a realização acústica de texto e partitura. Mas também: a montagem de materiais acústicos originais (documentários): a literatura de fita magnética. Nela diluem-se: o lírico, o épico, o dramático. Nela fundem-se: fala, ruído, música. A peça radiofônica, como produto artístico autônomo e também desligável do meio de comunicação em que nasceu."

Giuliano Obici: "Fazendo um percurso histórico do papel social do rádio, podem-se assinalar claros momentos de mudança. Num primeiro, sua utilização esteve voltada para fins políticos e educativos; posteriormente, o vínculo com a  indústria fonográfica motivou a  linguagem  radiofônica a se voltar para o entretenimento.  Poderíamos delinear   ainda   um  terceiro  momento,   quando   o   rádio   é utilizado   como   estratégia   de  movimentos   de resistência, como se deu com as rádios piratas e as comunitárias, ou ainda um quarto, com a rede mundial de computadores."

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Relato de relatos

E o quico som tem a ver com educação ambiental?

Talvez muitas coisas.

Aprendemos a ignorar o dia-a-dia urbano. Não ouvimos mais.

Na verdade, ouvimos sim, mas colocamos fones de ouvido para ouvir coisas melhores.

Os sons podem não ser agradáveis. Podem ser muito altos. Embaralhados. Um som de falante-passos-de-salto-urro-ônibus-carro-moto. Sem distinguir as nuances, as profundidades. Fica uma grande parede sonora (lo-fi).
Nada nos chama a atenção sonoramente, a não ser quando não conseguimos lidar com o incômodo ou quando há algum 'ruído não-diegético'. Um som não usual no entrelaçamento urbano. Um som de pássaro no meio da Avenida Paulista. Ou um grilo no meio do mercadão. Tá ouvindo?

Certas paisagens sonoras estão extintas ou ameaçadas, como plantas ou animais que compõem o seu organismo vivo. Aqui, todos arredores também influenciam.

Os relatos da visita do pessoal do BioLAbI a parque ecológicos para um mapeamento instiga algumas questões. Desde uma mudança da temporalidade, da escuta de diversas nuances, como a ausência da correria sonora diária implica em um resguardo.
Não podemos fechar as orelhas como fazemos com as pálpebras. Às vezes nem nos reconhecemos como ouvintes e, mais comum ainda, enquanto agentes sonoros. Falou?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Entrevista com Murray Schafer




Acabei de achar essa entrevista com meu guia espiritual. Paisagem Sonora, sons, McLuhan, ruídos, ecologia acústica.
Está em inglês, apesar dos intertítulos.

Ruído diegético

Não percebemos muito bem o meio sonoro. Schafer já escreveu que aprendemos a ignorar os 'ruídos', e percebemos somente que um ruído definitivamente existe e está atuando no ambiente quando ele não faz 'parte da diegese', não é um elemento do dia-a-dia.
Os sons cotidianos e frequentes ressaltam quando param. Ou quando o som pertence a outro lugar. Parece uma questão quase cinematográfica.


Fica aqui um exemplo do "Era uma vez no Oeste", dirigido por Sergio Leoni, que traduz isso.





quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Câmara anecóica ou semi-anecóica

O silêncio não existe. A câmara anecóica apenas deixa o som com menor intensidade.

A vivacidade dos arredores não invade a câmara. Relatos dizem que as palavras caem como blocos sólidos no chão. Outros, como o de John Cage, que chega-se escutar o som do próprio sangue circulando e do sistema nervoso em plena atividade.
Os dois relatos parecem assustadores. Tanto que fui procurar imagens da câmara anecóica. Não achei a imagem menos assustadora: claustrofóbica como a câmara configura o próprio som em seu interior!

As imagens estão diretamente ligadas à url original. Pra ver o site de onde vem é só dar uma olhada.

sábado, 24 de julho de 2010

O Softspace e o espaço open source

O espaço pode ser encarado como um computador: possui uma parte rígida, o hardware, e todos os programas que animam essa parte, o software.


O hardware de um espaço pode ser as paredes imóveis, chão e teto. Podemos animar esse espaço, e fazemos isso todos os dias: ouvimos música, cozinhamos, colocamos essências, pintamos e decoramos, adaptamos  e animamos o lugar para atender nossas necessidades e desejos. Essa é a parte que pode ser um software.




O hardspace’ aparece como algo concreto e definido no espaço através de suas propriedades físicas como paredes fixas, chão e teto; mas também como um softspace, que interage com o meio, onde as pessoas são afetadas e também têm efeito sobre ele. O hardspace, porém, pode ditar os processos que podem ocorrer no softspace.

A arquitetura incorpora o meio, e está em constante transformação através de seu uso e reuso.

Não se pode planejar um espaço fechado e empacotado para o usuário. O usuário tem que ser visto no processo como um co-designer - em todos os tipos de obra.


Não somente em obras arquitetônicas, mas em obras artísticas em geral há cada vez mais contestações sobre a supremacia do autor, que controla a sua obra e entrega-a para a sociedade um trabalho fechado e finalizado. Procura-se agora um design open source, onde todos os usuários podem colaborar para a formação do espaço, que já não é mais visto como algo rígido, imutável e permanentemente fixo.


Para saber mais disso, tem um artigo ótimo do Usman Haque aqui, é um texto bem leve. E o site dele é esse.


Não precisamos recorrer à instalações artísticas ou mediarts pra pensar nesse processo. 


Diariamente modificamos o espaço à nossa volta sem perceber. A paisagem sonora é fruto de inúmeros fatores: do hardspace (o espaço imprime sua característica no som, pois o som reverbera, é absorvido, refletido, etc.), dos arredores que podem influir (lembre de seu vizinho agora), dos elementos que estão envolvidos no lugar, e... nós mesmos, por mais silenciosos que tentamos ser. Talvez o fator de que estamos envolvidos no meio sempre é esquecido.








segunda-feira, 19 de julho de 2010

Emoção Art.Ficial 5.0 - BION de Adam Brown e Andrew Fagg


http://www.isisconceptuallaboratory.com/bion.html

Essa obra de Adam Brown e Andrew Fagg é belíssima. Em exposição no Itaú Cultural, em São Paulo, a obra consiste em vários 'bichinhos' que atuam de forma autônoma entre si de acordo com a presença de humanos.

O mais belo é que cada um tem uma resposta diferente. A presença não contamina o todo de uma vez só. A simples presença de alguém consegue transformar as luzes e sons, onde cada elemento influi o outro, como se fosse contando para o outro que alguém passou perto, mudando todo o contexto visual e sonoro. Como um aviso, uma fofoca.

- ". One by one, in rapid succession, bions signal other bions of the stranger and in a wave like pattern become silent. The bions eventually become accustomed to her presence and begin to respond to her as if she was part of their ecosystem. They become attracted to her and glow more intensely when she nears. Eventually, she is incorporated into the dynamic array she once witnessed.


Passada a sensação de 'ameaça', os bions identificam você como parte deles. Daí você pode estar no meio deles, perceber as nuances sonoras que cada um reproduz.
De longe, o som parece uma massa de cigarras biônicas.
Próximo, o som é cheio de fragmentos perceptíveis - o verdadeiro som só é revelado quando você faz parte do ecossistema dos bions!

O site de Adam Brown é por aqui.

O site da exposição é por aqui. Vale dizer que é gratuita, só deixa a desejar porque não se pode filmar ou tirar fotos. É até dia 05 de setembro.

sábado, 17 de julho de 2010

Imersão e apercepção

“Uma das funções sociais mais importantes do cinema é criar um equilíbrio entre o homem e a aparelho. O cinema não realiza essa tarefa apenas pelo modo com que o homem se representa diante do aparelho, mas pelo modo com que ele representa o mundo, graças a esse aparelho. Através dos seus grandes planos, de sua ênfase sobre pormenores ocultos dos objetos que nos são familiares, e de sua investigação dos ambientes mais vulgares sob a direção genial da objetiva, o cinema faz-nos vislumbrar, por um lado, os mil condicionamentos que determinam nossa existência, e por outro assegura-nos um grande e insuspeitado espaço de liberdade.” (BENJAMIN, 1996)
           
O assistir imagens em movimento acompanhadas por sons: uma caverna escura, com uma fonte de luz que reproduz em uma parede imagens em movimento do mundo exterior, que tem seus sons ecoados dentro da caverna, parecendo sair das próprias imagens. Para Arlindo Machado (1997), no mito da caverna de Platão, o mundo dentro da caverna não é um produto do mundo exterior de luzes, mas também um mundo construído e modificado pelos forjadores. Baudry (apud Machado 1997, 43) discorre que os efeitos ideológicos produzidos pelo aparato técnico da sala de cinema – o projetor, a sala escura e a tela – completa a mise en scène da caverna, com imersão do espectador ao mundo apresentado através das imagens na tela. Na sala de projeção as perturbações visuais e auditivas não provenientes do filme são atenuadas, colaborando para um isolamento do espectador. A fluidez do filme está nesse convite à imersão, para qual os sons têm grande importância.
Desde as primeiras projeções cinematográficas, notou-se necessária a ambientação sonora para melhor imersão do espectador na narrativa. Desde os primórdios do cinema havia o desejo e a tentativa de unir o som às imagens da tela: narradores, dublagem ao vivo atrás das telas, partituras específicas para serem tocadas junto a determinados filmes, dentre outros. A presença de sons referentes à imagem sempre foi requerida, também no cinema silencioso.
O som no audiovisual não deve ser entendido ou tratado somente como um acessório, mas também um membro que faz parte de um todo orgânico e responsivo. O sonoro também traz “uma nova dimensão da imagem visual, um novo componente”, o som faz ver na imagem algo que não surge livremente (DELEUZE, 2007. p. 269.). Variadas formas de construção sonora conseguem levar informações importantes ao espectador, não somente através da maneira clara do diálogo, mas também através de outros elementos sonoros. Os componentes sonoros de uma trilha sonora podem ser divididos em ambiências, falas, ruídos, efeitos e música, e podem ser mais ou menos distinguidos entre uns e os outros. Todos os componentes sonoros são misturados, onde um é controlado pelo outro, formando a ilusão de unidade sonora. Todos esses elementos podem ser independentes entre si, suprirem-se ou se transformarem (DELEUZE, 2007): e a parceria com a imagem ganha vários sentidos conforme o momento.

BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. A Idéia do Cinema. (José Lino Grünnewald, org.) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. Texto originalmente publicado em 1955.


DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Editora Brasiliense, 2007.
MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas e Pós-cinemas. 1ª edição. Coleção Campo Imagético. Campinas: Editora Papirus, 1997.

sábado, 19 de junho de 2010

O sentido das reproduções sonoras



O advento dos equipamentos gravadores e reprodutores (a invenção do fonógrafo foi em 1877, que gravava e reproduzia) fez com que o espaço sonoro rompesse a barreira física instaurada entre fonte sonora e receptor. O espaço sensório humano aumenta, e as mídias formam suas próprias linguagens. Alguns 'formatos' se unem formando linguagens diferentes, como o audiovisual. Ganha-se o rádio, música gravada, televisão, cinema, instalações artísticas na paisagem sonora. Como defendido por McLuhan, os meios extendem o homem, não estamos mais bloqueados pela barreira física.


Apesar do contexto atual, parece ser ainda muito problemática a questão da reprodução para alguns. A questão da "perda da aura", levantada por Walter Benjamin, parece assombrar. Hoje, essa "perda da aura" para muitos significa somente "generalização", e pode revelar um pensamento contrário à difusão das obras. É o início da 'coisa diferente'.


Sem a reprodução, a educação estaria direcionada a poucos - do livro à internet. Sem a reprodução, estaríamos fechados "no nosso próprio mundinho", não enxergando outras culturas. Perderíamos coisas muitos boas e bonitas de se ver.


Gostamos de separar muito entre o "melhor" e o "pior". Assistir um show é melhor que ouvir um cd em casa.
Deve-se encarar como eventos diferentes. Uma pessoa pode ter um sem-número de aleatoriedades que darão como resultados não se sentir bem em um show. Porém pode se sentir melhor quando escuta um cd em casa. Há muitíssimos fatores que podem fazer da escuta da reprodução mais proveitosa. São coisas diferentes e não é o fato de pertencerem ao âmbito do "escutar música" que as tornam iguais.


Estamos numa época do sentir. Podemos sentir várias vezes, sentir diferente. Esquecer o sentir melhor ou pior.



terça-feira, 1 de junho de 2010

Ver as ondas...

... inclusive as de água. Interação das ondas sonoras no meio.



http://www.youtube.com/watch?v=p3NykzXhqKw

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eureka

Um texto muito bom = muitas ideias novas a desenvolver.

Som, feedback e interação


http://www.garthpaine.com/papers/files/artistic-context-caiia03.pdf
Interactive, Responsive Sound Environments - A Broader Artistic Context

Dr Garth Paine
Music, technology and Innovation
De Montfort University UK

Abstract:

Interactive systems offer a unique method of engagement, based on a response – response exchange. They offer the promise of a truly immerses experience.
This paper will look at the development of artistic practice in the twentieth century, and it’s associated focus on individual expression. It will do so as a way of looking at the development of the interactive ideal.
In drawing a conceptual framework for interaction, it will also draw on the study of Cybernetics, particularly, the causal loop, drawing parallels between the interdependent nature of the causal loop, and the relationships developed in an interactive system.
Finally, I put forward a personal observation on how explicit the role of the technology should be in the users experience of engagement with the interactive system. This collection of musings represents an exploration of the many facets of interaction, especially within an interactive, immersive environment, with the view to establishing an interdisciplinary context for personal engagement and experience, and some conceptual starting points for thinking about interactive sound works beyond the confines of “music” per se.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Imaginary Landscape no. 5

Uma composição-recortes, em que o compositor entrega uma 'obra pronta' pra ser recortada por quem quiser, e tampouco precisa de músicos.


http://www.youtube.com/watch?v=C8b5epOonI8

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Encucações: interações com a paisagem sonora


A paisagem sonora (talvez descartando rádio, música entre outras coisas) parece ter um muro que impossibilita uma interação das pessoas com o ambiente através dela.
Há tempos penso sobre a questão de uma interação sonora: um grupo de pessoas interagindo e modificando o ambiente, que responde algo às pessoas, obtendo uma circularidade e feedback - com um olhar cibernético (essa questão vai ter que ficar para uma outra hora....)
O FILE 2009 não sai da minha cabeça, junto ao Primal Source do Usman Haque. O que eles têm em comum? O Festival de 2009 apresentou várias instalações que faziam as pessoas mudarem de comportamento, para agir sobre a obra. Esta por sua vez, respondia e estimulava uma nova acão das pessoas, estabelecendo um ciclo. Por exemplo o  Capacitive Body, dos alemães Andreas Muxel e Martin Hesselmeier.


O Capacitive Body era uns fios 'eletro luminescentes' que respondiam aos sons emitindo luz, que passeava pelos fios. Como o Festival foi realizado no SESI da Av. Paulista, em São Paulo, ele foi colocado estrategicamente na frente do prédio, separado da calçada e da rua por um vidro.
Os carros passavam e os fios acompanhavam o movimento sonoro. E as pessoas iam até lá, gritavam e batiam palmas esperando os fios responderem.

Outros, pro delírio das crianças e desespero dos monitores, faziam sons quando estimulados por alguém. Refiro-me especificamente a uma obra que infelizmente esqueci o nome e não consegui encontrar (ajuda?) mas era uma circunferência sensível ao toque das pessoas, que emitia sons, e podia-se até mesmo produzir uma música eletrônica.


Será que a interação com o espaço através dos sons encontra seu espaço lúdico só em instalações e obras de arte?
Será que não saímos do nosso cotidiano sonoro se não formos estimulados?
Como fazer alguma coisa fora da estrutura do que já foi feito?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sala de Audición

http://www.coleccionfb.com/sala_audicion.htm

Esse site tem como ouvir reproduções de vários tipos de fonografos, gramofones, vitrolas, etc.

Sim, há toda a problemática do "digital x analógico", "qualidade x formato de arquivo", "audição x gravação x reprodução" e tudo mais... mesmo assim vale a pena conferir.

Pesquisando arquiteturando

O processo de pesquisa até agora sobre o Primal Source, de Usman Haque, ainda está com amarras.

Pode-se culpar sempre o tempo, mas o problema não parece ser somente esse. Quem nunca teve a impressão de que tudo está na 'ponta da língua' e mesmo assim a dificuldade de passar para a escrita persiste com um gigantismo assustador?

Ah, tal oralidade....

http://vimeo.com/1378892

http://www.interactivearchitecture.org/primal-source-usman-haque.html

sábado, 8 de maio de 2010

Escutas - breve resumo introdutório

O som do cotidiano está repleto de riquezas. Utilizando a escuta reduzida consegue-se pensar mais em seus aspectos.

Michel Chion, em Audio-vision: sound on screen, discorre sobre os tipos de escuta citando Schaeffer:
- Escuta causal: quando descobrimos o que é a fonte sonora e de onde vem.
- Escuta semântica: relativa aos signos, da fala.
- Escuta reduzida: descobrir se um som é intenso ou não, tem corpo ou não, brilhante ou não, reverberado ou não, ácido, hostil, sóbrio, estridente, simbilante, estridulante...

A escuta reduzida dá características aos sons. E isso é uma tarefa muito difícil.
Por que o som do meu passo é diferente do seu? Por que o freezer tem um som diferente de um computador antigo?
Lembrando aqui que uma escuta não exclui a outra. Você pode perceber uma voz ardida, aguda e agonizante, que a TV da sala está reproduzindo, de uma atriz falando "Não  me deixe!".

Um exercício sempre é muito bem-vindo para praticar a escuta reduzida. Durante 30 segundos de seu dia, em qualquer lugar, perceba a mudança de texturas, de como o ambiente sonoro se arranja, imagine desenhos representativos para cada som.

Por que desenhos representativos? Estamos muito atrelados à imagem. É mais fácil desenhar como um som se comporta do que descrevê-lo com palavras. Semânticamente.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cinco dedos soberanos dificultam a respiracão

Marshall McLuhan - 1955







A cidade já não existe mais, salvo como espectro cultural para turistas. Qualquer botequim à beira da estrada, com seu aparelho de televisão, jornal e revista, é tão cosmopolita quanto Nova York ou Paris.
O camponês sempre foi um parasita suburbano. O agricultor já não existe; hoje, é um homem da “cidade”.
A metrópole, hoje em dia, é uma sala de aula; os anúncios são seus mestres. A sala de aula é uma obsoleta casa de reclusão, uma masmorra feudal.
A metrópole é obsoleta. Perguntem ao Exército.
A cobertura global instantânea do rádio e da televisão torna a forma citadina insignificante e despida de função. Outrora, as cidades estavam relacionadas com as realidades da produção e da intercomunicação. Agora não.
Até a escrita ser inventada, vivíamos no espaço acústico, onde os esquimós atualmente vivem: sem limites, sem direção, sem horizonte, a escuridão, a intuição primordial, o terror. A fala é um mapa social desse pântano sombrio.
A fala estrutura o abismo do espaço acústico e mental, ocultando a raça; é uma arquitetura cósmica e invisível das trevas humanas. Fala para que eu te veja.
A escrita lançava o projetor sobre a escura e alta montanha da fala; a escrita era a visualização do espaço acústico. Iluminava a escuridão.
Esses cinco reis levaram um rei à morte.
Uma pena de pato pôs fim à fala, aboliu o mistério, criou arquiteturas e cidades, gerou estradas e exércitos, burocracias. Foi a metáfora básica com que se iniciou o ciclo da civilização, o passo com que se saiu das trevas para entrar na luz da mente. A mão que encheu um papel construiu uma cidade.
A escrita a mão está nas paredes de celulóide de Hollywood; a Idade da Escrita passou. Temos de inventar uma nova metáfora, reestruturar os nossos pensamentos e sentimentos. As novas comunicações não são pontes entre o homem e a natureza: são a natureza.
A mecanização da escrita mecanizou a metáfora audiovisual em que toda a civilização assenta; criou a sala de aula e a educação das massas, a imprensa moderna e o telégrafo. Foi a linha de montagem original.
Gutenberg tornou toda a História simultânea: o livro transportável trouxe o mundo dos mortos para o espaço da biblioteca da um cavalheiro; o telégrafo trouxe o mundo inteiro dos vivos para a mesa do pequeno almoço do operário.
A fotografia foi a mecanização da pintura em perspectiva e do olho parado; derrubou as barreira do espaço nacionalista, vernáculo, criado pela impressão. A impressão alterou o equilíbrio da fala oral e escrita; a fotografia alterou o equilíbrio do ouvido e do olho.
Telefone, gramofone e rádio são as mecanizações do espaço acústico pós-letrado. O rádio leva-nos da volta às trevas da mente, às invasões de Marte e Orson Welles; mecaniza o poço de solidão que é o espaço acústico: o palpitar do coração humano aplicado a um sistema PA fornece um poço de solidão em que qualquer um pode afogar-se.
O cinema e a televisão completam o ciclo de mecanização do sensório humano. Com o ouvido onipresente e o olho móvel, abolimos a escrita, a metáfora audiovisual especializada que estabeleceu a mecânica da civilização ocidental.
Ao ultrapassarmos a escrita, recuperamos a nossa totalidade, não num plano nacional ou cultural, mas cósmico. Evocamos um homem supercivilizado, subprimitivo.
Ninguém conhece ainda a linguagem inerente à nova cultura tecnológica; somos todos cegos e surdos-mudos, em termos da nova situação. As nossas palavras e nossos pensamentos mais impressionantes atraiçoam-nos ao referirem-se ao nosso previamente existente, não ao atual.
Estamos de volta ao espaço acústico. Começamos de novo a estruturar os sentimentos e as emoções primordiais, de que 3000 anos de letras nos divorciaram.
As mãos não tem lágrimas para derramar.


Era uma vez uma estréia

Depois de um longo (porém apertado) processo, a estréia fica a algumas horas.
Fiz o som direto e a edição de som do Ocos!, direção do Pedro Garrafa. Se o som direto colocava vários 'sons atrás da orelha', a edição colocava uma paisagem sonora inteira!


A edição foi realizada da maneira mais rápida e eficiente o possível. Deixei para atrás alguns perfeccionismos, pois isso demandava tempo. Percebi depois que muitas coisas não eram 'perfeccionismos'.
O curta foi exibido no auditório do Centro Britânico no Brasil, em Pinheiros - bairro de São Paulo. Não houve tempo de eu conseguir algum outro estúdio para escutar o som, e isso me fez passar muita ansiedade. Ouvir o que se faz em outros lugares é sempre necessário, para que não ocorram surpresas.

Na estréia ocorreu tudo bem, com uma projeção em DVD. Alguns ruídos e alguns defeitos que não me agradavam na minha ilha de edição de som nem sequer deram as caras. Porém percebi que ainda tenho o mal da dinâmica de volumes - não pela falta, mas pelo excesso.

Em meu antigo emprego trabalhávamos mais com cinema, o que permite uma dinâmica de volumes maior. Creio também que pela minha formação eu procure essas camadas de intensidade, com o medo de criar uma imensa parede chapada de sons, mas ainda tenho que treinar a dinâmica para DVD.

Passei a automação de volume várias vezes, até que me lembrei do 'fator DVD'... decidi então ouvir tudo novamente com um volume de reprodução mais baixo, para aumentar a intensidade de algumas coisas e fechar mais essa perspectiva. Muitas coisas que eu fiz também invadiam a fronteira da mixagem, mas foi preciso - já que não haveria um processo posterior (mundo do baixo orçamento).

Não ficou do jeito que eu desejava. Mas acho que nunca fica.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Controle do som no audiovisual

Quando o som no audiovisual sai do controle, tanto quanto na captação quanto na reprodução, podemos ter um técnico de som demitido. Um exemplo (quase) clássico de um erro foi um caso de dezembro de 2009, que o som do microfone de certo jornalista "vazou" e foi ao ar. Ou um exemplo simples, quando em uma captação de som para um filme um carro passa buzinando quando o ator fala uma frase.


Novamente trazendo a questão das características sonoras, os sons estão presentes e se difundem: um som não desejado pode atrapalhar outro que é desejado, não importa o direcionamento do microfone. Já na imagem, o enquadramento da câmera toma conta do recorte. Por isso o espaço acusticamente planejado de um estúdio e das mantas e tecidos  para captação de som direto.

A questão do controle no som direto e na pós-produção de som é importantíssima para o resultado final ficar bom, ou minimamente aceitável - visto que uma fala ininteligível (dentre muitas outras coisas relativas ao som) pode despertar o espectador, retirando-o do filme.

 O som deve ser captado o mais claro possível para chegar na pós e as ambiências e efeitos adicionados darem maior espacialização do lugar e terem sua intensidade controlada. É também na edição de som que os planos ganham sequência temporal, os cortes da montagem são ressaltados ou escondidos - tudo para dar impressão de uma unidade do filme ou vídeo, organizados em planos pela decupagem, gravados em uma sequência específica. E é também o controle da intensidade de volume, reverberação e outros efeitos que fazem a obra ter uma estrutura audiovisual - de acordo com a proposta estética da realização como um todo.

Esse controle não acontece no dia-a-dia. A linguagem audiovisual pede esse controle para que ocorra a imersão do espectador; e também não podemos 'mixar' o mundo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Wally do som



Murray Schafer, em seu livro A afinação do mundo, discorre:
"A paisagem sonora é qualquer campo de estudo acústico. Podemos referir-nos a uma composição musical, a um programa de rádio ou mesmo a um ambiente acústico como paisagens sonoras. Podemos isolar um ambiente acústico como um campo de estudo, do mesmo modo que podemos estudar as características de uma determinada paisagem. Todavia, formular uma impressão exata de uma paisagem sonora é mais difícil do que a de uma paisagem visual." (p. 23)

    No século XX, a quebra de paradigmas do pensamento ocidental nos traz a ideia de que o humano faz parte de seu meio, como receptor e como agente, assim como o meio faz parte do humano. As fronteiras da objetividade, à partir desse pensamento, são diluídas. O pensamento sobre a apreciação sonora e a atuação sobre a paisagem sonora também transforma-se. Não somos apenas ouvintes, mas também somos "sonoros" mesmo sem instrumentos musicais - o ouvinte também faz parte da paisagem sonora, podendo personalizá-la à seu gosto com fones de ouvido e mídias sonoras portáteis, e/ou  complemetando-a com sons despretensiosos de seu movimento, veículos, dentre outros.

   Pela própria natureza da difusão sonora, o espaço físico também age sobre o som: temos efeitos de reverberação próprios de cada local, por exemplo.
Em O ouvido pensante, Schafer relata um caso: John Cage quando entrou em uma câmara anecóica (projetada especialmente para 'não ser sonora') reportou ao engenheiro responsável que ouvia um som agudo e outro grave. O engenheiro respondeu que o agudo era seu sistema nervoso e o grave o seu sangue circulando. Conclusão: não há o silêncio absoluto.
   Alguns relatam, inclusive, que silêncio é um "som bem fraco". De acordo com essa linha de pensamento, temos que o silêncio como ausência de som não existe e, portanto, a paisagem sonora sempre está presente - por mais difícil de achá-la.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pavilhão da Philips

Poème életronique 1958


http://www.youtube.com/watch?v=QBQsym_G82Q


Querer exibir o potencial dos produtos de uma empresa também pode render bons frutos.

sábado, 17 de abril de 2010

Som/Música - o significado lúdico da escuta

Como um violino é musical?
Como a paisagem sonora à nossa volta não pode ser?
O que caracteriza uma orquestra?
Por que uma banheira, uma panela de pressão, um patinho e borracha e uns cinco rádios não são uma orquestra?
O que define que um som tenha altura definida? O que é altura definida, sendo um objeto sonoro (considerado usualmente como não musical) capaz de reproduzir uma frequência principal de 1.286Hz?
Uma música feita somente com frequências puras é música?


Uma nova compreensão sonora da escuta veio à tona. Ainda não foi absorvida.
Uma música é feita pra ser agradável? Ou pode ser feita para evocar uma contestação ou pensamento? Ou até mesmo para quebrar alguma fronteira? Daí ela deixa de ser música?
A procura da aura do compositor e a afirmação de que não apreciamos a música corretamente são ideias conservadoras?
Por que temos que ter fórmulas matemáticas na música para que ela se torne especial a um ouvinte?

Performance e reprodução. Situação de escuta. Evento sonoro.
Audição como experiência cultural.
Isso é música para meus ouvidos.

Quando ficamos adultos esquecemos do aspecto lúdico de um helicóptero sobrevoando ou de um grilo cantando?


... será que havia crise do pensamento há 300 anos atrás?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Primeira vibração





Finalmente um primeiro post.


Afastei do som por achar que estava ficando "surda" pelas condições cotidianas. Mas o interessante é que foram justamente minhas condições cotidianas de viver no centro de São Paulo que me chamou a atenção para parar e escutar o que estava acontecendo. O que antes eu não conseguia escutar acabou virando meu material de estudo.


Eu não escutava música com fone de ouvido me locomovendo pela cidade, de ônibus, metrô ou trem. Gostava de perceber como uma paisagem sonora mudava de uma forma muito difícil de descrever de um bairro para o outro, assim como o seu aspecto visual. Sim, também havia uma recomendação médica, já que eu trabalhava como editora de som e com fone de ouvido. Além de tudo, o movimento era sempre diferente. Tinha uma vivacidade - às vezes exagerada.


Como diria o John Cage, "o som de Mozart e Beethoven é sempre a mesma coisa, já o trânsito é sempre diferente", variando em intensidade, dinâmica, eventos, e mais.






fica aqui um primeiro pare, olhe, escute:


John Cage, about silence