quinta-feira, 29 de abril de 2010

Wally do som



Murray Schafer, em seu livro A afinação do mundo, discorre:
"A paisagem sonora é qualquer campo de estudo acústico. Podemos referir-nos a uma composição musical, a um programa de rádio ou mesmo a um ambiente acústico como paisagens sonoras. Podemos isolar um ambiente acústico como um campo de estudo, do mesmo modo que podemos estudar as características de uma determinada paisagem. Todavia, formular uma impressão exata de uma paisagem sonora é mais difícil do que a de uma paisagem visual." (p. 23)

    No século XX, a quebra de paradigmas do pensamento ocidental nos traz a ideia de que o humano faz parte de seu meio, como receptor e como agente, assim como o meio faz parte do humano. As fronteiras da objetividade, à partir desse pensamento, são diluídas. O pensamento sobre a apreciação sonora e a atuação sobre a paisagem sonora também transforma-se. Não somos apenas ouvintes, mas também somos "sonoros" mesmo sem instrumentos musicais - o ouvinte também faz parte da paisagem sonora, podendo personalizá-la à seu gosto com fones de ouvido e mídias sonoras portáteis, e/ou  complemetando-a com sons despretensiosos de seu movimento, veículos, dentre outros.

   Pela própria natureza da difusão sonora, o espaço físico também age sobre o som: temos efeitos de reverberação próprios de cada local, por exemplo.
Em O ouvido pensante, Schafer relata um caso: John Cage quando entrou em uma câmara anecóica (projetada especialmente para 'não ser sonora') reportou ao engenheiro responsável que ouvia um som agudo e outro grave. O engenheiro respondeu que o agudo era seu sistema nervoso e o grave o seu sangue circulando. Conclusão: não há o silêncio absoluto.
   Alguns relatam, inclusive, que silêncio é um "som bem fraco". De acordo com essa linha de pensamento, temos que o silêncio como ausência de som não existe e, portanto, a paisagem sonora sempre está presente - por mais difícil de achá-la.