segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Breve texto sobre som e imaginação na radionovela e radiodocumentário

No audiovisual, a associação entre imagem e som facilita a decodificação da mensagem, podendo ser explorada de forma criativa. Enquanto isso o som 'atiça' a imaginação, não dá a informação completa e faz como a literatura: o ouvinte ou leitor imaginam o próprio mundo que o meio está tratando, criando de acordo com o estímulo.


Essa frase do Arhneim já está colocada em outro post:

“A obra radiofônica, apesar de seu caráter abstrato e oculto, é capaz de criar um mundo próprio com o material sensível de que dispõe, atuando de maneira que não se necessite nenhum tipo de complemento visual”

A peça radiofônica tinha uma única chance de apresentação ao ouvinte. Hoje, a peça radiofônica dissemina-se pelos arquivos digitais e os downloads, podendo ser ouvidas a qualquer hora. Mas o ato de "voltar" o áudio compromete a fruição. Portanto, o caráter de "única chance" deve ser considerado. Além do mais, por nós ocidentais sermos estimulados principalmente pelo meio visual, encontramos várias distrações quando escutamos algo no rádio - faxina, conversa diária, leitura,  tendo na peça radiofônica uma trilha sonora de fundo. A narrativa radiofônica, ficcional ou documental, exige devida atenção do ouvinte para imersão, diferentemente dos programas musicais.

Os elementos para a criação do mundo próprio são vários: falas, músicas, 'silêncio', efeitos e 'ruídos'.
A linguagem radiofônica é o que o conjunto de elementos sonoros que se relacionam, produzindo estímulos sensoriais estéticos ou intelectuais, ou para criar imagens.

Não é imposto criar uma peça radiofônica somente pela fala e música, como em Repórter Esso. Hoje, todos os elementos sonoros devem ser trabalhados em conjunto dando um resultado diferenciado e mais detalhado do que os clássicos e clichês da década de 60. Na radionovela o som pode ser tratado de maneira mais apurada, não requerendo que os personagens falem tudo que fazem ou vão fazer. A linguagem pode ser desenvolvida através de outros elementos sonoros. No radiodocumentário, que se difere do radiojornalismo pelo aprofundamento e a diversificação de pontos de vista (documentações podem ser variadas, diversificadas e múltiplas, podendo incluir e desenvolver os dados que ficam fora da notícia), pode utilizar variados materiais: entrevistas, materiais de arquivo, narrações, músicas...

O humano tem tendência em atribuir mais importância à voz - o vococentrismo (Michel Chion) - porém todos os elementos sonoros interagindo traz uma maior imersão e detalhismo do espaço acústico da peça radiofônica, isso é possível de certificar pelos próprios clichês e estereótipos de radionovelas.


Outro aspecto importante a ser notado é a interação com o ouvinte, antes por telefone e cartas e hoje através de sites, twitter, facebook e outras redes sociais, além do clássico telefone. O rádio sempre pediu essa interatividade.