Acabo de voltar da UFSCar, da apresentação do projeto Aquarpa. Não sou muito para falar do projeto, mas resumidamente (de forma bem bruta) são instrumentos construídos, que exploram texturas e sonoridades variadas, junto a uma projeção feita ao vivo.
É interessante como as pessoas divergem quanto à sensações passadas por esse tipo de 'linguagem', música-vídeo. Aquela velha problemática de descrever o som como sóbrio ou alegre é elevada à décima potência. Saindo do evento algumas pessoas disseram que sentiram medo do instrumento inicial, outra se sentiu incomodada, enquanto que interpretei mais como um convite, um som que podia ser o que eu quisesse.
Viagens à parte, lembrei-me de umas frases do Harry Partch, compositor que já abordei no programa Ruído Clássico da Rádio UFSCar:
“O mundo que eu tenho feito por esses anos tem muito em paralelo nas atitudes e ações do homem primitivo. Ele encontrava a mágica sonora nos materiais comuns a sua volta. E ele prosseguiu fazendo o veículo, o instrumento, o mais belo que podia. Por fim, ele envolveu a magia do som e a beleza nas palavras e experiências do cotidiano, nos rituais e no drama, para dar um maior significado em sua vida. Esta é minha trilogia: magia do som, beleza visual, e o ritual-experiência.”
“Música na verdade é uma colagem de sons. A técnica de montagem de cortes rápidos em filmes é traduzida em termos musicais. As súbitas mudanças representam símbolos da natureza do filme, utilizadas para um fim dramático: árvores mortas, troncos, areia caindo, vento assoprando, gaivotas cantando, cobras se cortorcendo, o movimento do campo.”
É interessante como esses momentos citados por Partch podem ser muito sonoros. A sensação sonora proporcionada pela sugestão, vinda da palavra, do som de galhos de árvore ao vento.