quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Textura do som

Acabo de voltar da UFSCar, da apresentação do projeto Aquarpa. Não sou muito para falar do projeto, mas resumidamente (de forma bem bruta) são instrumentos construídos, que exploram texturas e sonoridades variadas, junto a uma projeção feita ao vivo.
É interessante como as pessoas divergem quanto à sensações passadas por esse tipo de 'linguagem', música-vídeo. Aquela velha problemática de descrever o som como sóbrio ou alegre é elevada à décima potência. Saindo do evento algumas pessoas disseram que sentiram medo do instrumento inicial, outra se sentiu incomodada, enquanto que interpretei mais como um convite, um som que podia ser o que eu quisesse.

Viagens à parte, lembrei-me de umas frases do Harry Partch, compositor que já abordei no programa Ruído Clássico da Rádio UFSCar:

“O mundo que eu tenho feito por esses anos tem muito em paralelo nas atitudes e ações do homem primitivo. Ele encontrava a mágica sonora nos materiais comuns a sua volta. E ele prosseguiu fazendo o veículo, o instrumento, o mais belo que podia. Por fim, ele envolveu a magia do som e a beleza nas palavras e experiências do cotidiano, nos rituais e no drama, para dar um maior significado em sua vida. Esta é minha trilogia: magia do som, beleza visual, e o ritual-experiência.”

“Música na verdade é uma colagem de sons. A técnica de montagem de cortes rápidos em filmes é traduzida em termos musicais. As súbitas mudanças representam símbolos da natureza do filme, utilizadas para um fim dramático: árvores mortas, troncos, areia caindo, vento assoprando, gaivotas cantando, cobras se cortorcendo, o movimento do campo.”

É interessante como esses momentos citados por Partch podem ser muito sonoros. A sensação sonora proporcionada pela sugestão, vinda da palavra, do som de galhos de árvore ao vento.