sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Retomada do blog - Bienal de Artes de São Paulo 2010

Percebe-se pelas datas das postagens o fim de ano conturbado. Gostaria de tentar compensar a falta, mas acredito que se prometesse tal coisa, seria uma promessa falsa.
Muito passou nesses meses, vou tentar ressuscitar algumas anotações, que parecem sempre tão sem noção quando se passa determinado tempo.

Na Bienal das Artes de São Paulo, percebeu-se que muitas obras tinham o som como uma parte de sua concepção. Algumas eram essencialmente audiovisuais, agindo diretamente no sentido (ou fruição, como preferirem), e outras o som atuava como um acompanhante.
Como resultado do uso sonoro ou audiovisual, ou da falta de determinação (quem sabe) do 'volume' apropriado para o espaço, ou até mesmo o desejo de determinados artistas em interferirem em todo o espaço de exposição, o lugar acabou tendo uma paisagem sonora própria, diferente da cotidiana mas igualmente intensa. O som de uma obra agia sobre a outra, modificando a intenção e o sentido da uma 'forma de arte' que nunca pensou em se encontrar com aquela outra. Até onde o idealizador pode prever o decorrer da obra? Aquela velha questão: a obra foi o que ele idealizou ou foi o sentido que atribuídos, distorcemos, modificamos? Querendo ou não, o som afeta sensações e portanto aquilo que vemos. Quando perceber que estamos ouvindo algo além de ver uma foto, gravura, quadro, algo essencialmente imagético?
A mais impactante pelo silêncio foi 'Beggars', de Kutlug Ataman (Turquia/Inglaterra, 1961, diz o catálogo oficial da Bienal). Ao entrar em uma sala, com paredes, a projeção de imagens de pedintes em preto e branco em cada uma das paredes, que cercam quem entra naquela sala escura e silenciosa. Pessoalmente, o preto e branco dá o mesmo caracter fantasmagórico dos filmes antigos, a ideia da efemeridade, incerteza, morte e sucessão de acontecimentos - que pode ser aplicada nessa realização visto que é de 1961. Alguns pedintes com maior desespero, outros mais lânguidos... e o silêncio que deixa a atmosfera de desconforto. Nada há pra ser dito ou ouvido. Certamente o impacto e o discurso político da obra não seria o mesmo se alguma ambiência fosse colocada.

Ainda me pergunto sobre o assobio na escada rolante, como se alguém estivesse ali assobiando alguma melodia. Olhava para todos os lados e ninguém. Na outra escada rolante a mesma coisa. O assobio, o cotidiano, o silêncio muitas vezes incômodo do elevador. Movidos por som, não ouvimos - apenas emitimos.

Um elemento que afeta outro no espaço, dando outros sentidos. Hoje em dia, às vezes é necessária alguma exposição barulhenta que faça você entender o que se passa.